Climbathon - Malásia - Are you tough enough?
Mount Kinabalu International Climbathon, essa foi uma prova épica para mim, algo memorável, uma prova para contar para meus filhos, meus netos e quem mais estiver dispostos a escutar. Disputei essa prova em 2014 porém minha história com o Climbathon começou um pouquinho antes, em 2012. Eu me mudei para a Indonésia em 2011 quando fui viver e trabalhar em Balikpapan um cidade de porte médio (500mil hab) na ilha (super ilha) de Bornéu. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Balikpapan) Cheguei em Junho de 2011 à cidade. Quando cheguei, trabalho novo, cidade nova, cultura completamente diferente do que conhecia.. o primeiro ano foi de muito trabalho, adaptação e não muito tempo para treinar. So depois de ter a situação sob controle comecei a me dedicar mais ao treinos e então buscar provas para participar.. foi quando então me deparei com o tal Climbathon, que acontecia também na ilha de Bornéu mas do lado da Malásia, no grande, alto e famoso Mount Kinabalu (https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Kinabalu) O Monte Kinabalu é o ponto mais alto da Malásia, tem 4095 m de altitude e é a terceira mais alta montanha do sudeste asiático.
Quando comecei a ler fiquei fascinado com a historia da tal prova, o Climbathon teve seu início em 1987 quando a direção do Parque Kinabalu decidiu criar uma equipe de resgate para auxiliar na descida de escaladores que sofressem acidente durante a subida da montanha. Isso seria muito útil em caso de mau tempo quando então os helicópteros teriam dificuldade e não poderiam alcançar os pontos de resgate. Foi então que os resgatistas do grupo formado decidiram que era importante treinarem para que pudessem subir a montanha o mais rápido possível, foi então que surgiu a idéia de uma prova de verdade. Desde então essa prova se tornou parte da Federação International de Skyrunning recebendo os principais atletas do Mundo em busca de pontos para a série do campeonato mundial.
Pois é, o mundo da voltas, 1 ano depois daquela cirugia estava eu ali na largada no 28th Climbathon. Eu me lembro de cada segundo, me lembro de estar ali naquela largada e pensar em tudo que tinha acontecido 1 ano atrás, e por tudo o que eu tive que passar para estar ali. Muita fisioterapia, muita dor, muito treino… muitos sonhos! Me lembro de ter ido sozinho, peguei um voo pra Kuala Lampur KL (Capital da Malásia), dormir em um hotel daqueles tipo caixa (Coisas da Asia) no aeroporto de KL e no dia seguinte voar para Sabah. Chegando no aeroporto fui direto pegar um taxi.. porém Kota Kinabalu, cidade onde se localizava a tal montanha, ficava a cerca de 100km do aeroporto. Os taxistas não estavam muito animados em me levar. Até que encontrei um senhor sensacional que aceitou o desafio. Foram umas 2 horas de viagem por uma estrada estreita no meio de uma paisagem impressionante que subia até a pequena cidade ao pé da montanha. Hospedei-me em um hotel bem simples perto no ponto de chegada da prova, pois é, a prova largaria em um lugar e chegaria em outro. Escolhi a chegada porque sabia que seria bastante desgastante.
Pois bem, deixando de rodeios vamos ao que interessa. A prova era dividida em, basicamente 2 categorias principais, Elite e Não elite. A prova do pessoal da elite reunia somente o pessoal da pegada, profissionais que participavam do campeonato mundial de montanha, os SkyRunners, somente uns 80 participantes entre homens e mulheres. Essa moçada casca grossa corria no sábado pela manhã, largando do parque nacional Kinabalu situado a uma altitude de 1.500 m acima do nível do mar e chegariam ao topo da montanha, a 4095 m para então começarem a descer e completar 23 km de prova. Apesar da importância, é uma prova pequena em número de participantes. Em 2014 foram 719 participantes, incluindo os 81 profissionais.
Finalmente foi dada a largada! E então nos lançamos morro acima. Primeiro por uma estrada estreita, asfaltado, que ia serpenteando através da mata. A vista, o ambiente era incrível. Logo no começo, com aquela subida toda, já era possível perceber quem eram os destaques. Eu fui no meu pace, ali tranquilo, sem conhecer o caminho, sempre é melhor ter cautela, já que não se sabe o que se pode encontrar adiante. E assim fui indo. Fui subindo na manha, algumas vezes a subida era tranquila outras realmente difícil mas como diz o ditado.. “devagar e sempre!”.
Foi então que depois de alguns kms no asfalto chegamos à um portal no meio da mata, o famoso Timpohow Gate a 1.866 m acima do nível do mar. A partir daquele ponto o asfalto ficava para trás e seguiríamos pela trilha de terra.. muita terra, muita subida, degraus enormes.. tudo muito bem estruturado mas enfim era uma corrida e não um passeio. Ah! E mesmo que fosse somente um passeio na seria uma caminhada fácil.
Começamos a descer.... aparentemente um alívio para as penas mas foi então que a minha frente está mais uma vez um morro sem fim no meio da mata.. nessa hora é corre e anda, anda e corre. Lembro das minha pernas arderem.. já fazia alguns bons minutos que eu estava sozinho na trilha, não via ninguém a frente nem nota a ninguém vindo atrás. Foi então que subindo uma escada de degraus curtos e altos que me deparei com outro corredor a minha frente. O cara estava parado,
debruçado em algo que parecia um corrimão. Foi quando percebi um outro corredor um pouco mais à frente encostado em uma árvore vomitando. Foi aí que percebi Quênia caras estavam passando mal. Então por instinto parei, para quem sabe ajudar, foi então que minhas pernas começaram a tremer.. um dor insuportável começou a subir na parte anterior das minhas coxas. Foi aí que percebi que se eu parece seria mais um a passar mal naquela escada que parecia um muro. No mesmo momento me dei conta que eu não poderia parar, continuar era a única opção, balbuciei alguma coisa para os dois atletas que sem forças não conseguiram responder.
Continuei no corre anda, até que cheguei em um ponto que parecia o final daquela subida dolorosa. Ali havia um grupo da organização, com água, isotônicos e frutas.. informei que haviam 2 atletas em mau estado alguns km atras. Agarrei um isotônico, joguei água cabeça abaixo, e peguei 2 bananas.. a partir daqui foi morto abaixo. A vegetação começou a mudar, a mata fechado ficou para trás e para minha surpresa uma vegetação mais desértica surgiu a frente.. como planejado diminui a velocidade.... meu joelho.. ai meu joelho!
Não demorou muito para começar a ser ultrapassado por aquele pessoal que desce voando, passadas enormes, quase que saltando por cima de mim. Eu sabia da minha limitação, então não tinha outra alternativa que diminuir o ritmo. Depois de alguns bons kms a mata se fechou novamente, muito verde, e sombra. Foi quando escutei um barulhos diferente, pareceu panelas batendo, metal, botina e sei lá mais o que..
De repente chego a um ponto onde haviam as 30 pessoas, espectadores, torcendo, animando os corredores que passavam.. energia total.. aquele ponto marcava a saída da montanha. Agora era afasto pela frente, em algo que parecia uma estrada que levaria a alguma vila.. olhei no relógio.. ali era o quilômetro 17. Faltavam mais 6 adiante.
Aquela estrada com asfalto novinho parece que me deu um novo ânimo, afinal não havia mais morro acima, nem morro abaixo, apenas o sobe e desce de uma estrada qualquer. Um alívio para os joelhos naquela altura da prova.. depois de uns 2 km notei algumas casa enormes no meio daquela paisagem fantástica, foi quando me vi correndo junto a um campo de golfe. Ali estavam uns três jogadores que acenavam e gritavam algumas palavras de incentivo.. realmente surreal.
E assim segui para então me lá em cima no final do morro final a tal espera linha de chegada.. mas não antes de subir mais um morro mortal, para então chegar no que parecia as portas do céu! Cruzar aquela linha de chegada foi e é algo difícil de explicar com palavras, primeiro o sentimento de alívio, de chagar, de poder me jogar ao chão e pode se refrescar sem ter que se preocupar em seguir. E então aquela sensação única de “eu consegui!”, uma sensação de superação, de ter feito algo realmente além dos meus limites.
Impossível descrever o que eu senti naquela foto com a medalha em frente a placa da com os detalhes da prova, distância, altitudes e com aquelas palavras que eu nunca mais vou me esquecer: “Climbathon - the toughest trail race in the world. Are you tough enough?” Yes, I am f.... tough!!!!
Algumas fotos:
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