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O poder da patada da fúria


Em um desses momentos de reflexão, talvez por ter chegada aos tão “temidos” 40 anos de vida, decidi que era hora de buscar por novos conhecimentos, por novas fronteiras. Não fronteiras físicas mas desafios internos, era momento de me reinventar e de me redescobrir. Quem sou eu de verdade? Onde quero chegar? Quantas perguntas, quantas respostas, quantas dúvidas.

Foi quando tive a oportunidade de fazer um processo que realmente mudou minha forma de pensar.. em uma dessas conversas com meu interlocutor fui desafiado a descrever um momento da minha vida onde tivesse superado um desafio emocional, onde tivesse atingido uma meta realmente importante. E eu que sou um apaixonado por esportes me lembrei de uma prova de triathlon que fiz na Argentina, mais especificamente em um daqueles super condomínios de luxo em Tigres ao norte de Buenos Aires no princípio de 2016. 

Queria muito participar daquela prova. Junto com a inscrição reservei um lugar na área vip para minha esposa que estava grávida de 5 meses e para meu grande fã, meu filho então com 3 anos.  Seria um evento especial para todos nós. Eu vinha treinando bem para a prova. Apesar do trabalho intenso, das longas horas no escritório e do indesejável laptop que era levado pra casa depois do trabalho, que não me permitiam um rotina regrada de treinos eu conseguia de uma forma ou outra encontrar uma maneira de colocar algumas horas de atividade na minha tumultuada agenda. 

Foi quando à 2 meses da prova recebi a notícia que um daqueles super chefes que vivem no Olimpo  dos deuses iria fazer uma visita de 3 dias à nossa unidade, e justamente na semana anterior ao final de semana da prova! “Putz! Fim de prova pra mim!” pensei eu, já que nessas horas além das atividades intensas no trabalho agora eu e toda a equipe teríamos que revisar, reorganizar e preparar apresentações e todos aquelas formalidades que os tais seres merecem, ou esperam.

Durante esse período de trabalho intenso meus treinos de natação ficaram em segundo plano e quase que não existiram. Pedalar? Só mesmo aos domingos e quando não tinha reunião no escritório. Só me restavam algumas fugidas para correr enquanto aproveitava para relaxar e esquecer um pouco da pressão do trabalho. Os treinos ficaram irregulares assim como a alimentação. Pois bem, visita veio, visita se foi.. e no dia seguinte lá fui eu rumo a cidade onde ocorreria a prova. No domingo pela manhã, estava eu na linha de largada. Boiando naquele lago em tigres, com o coração a mil no meio de cerca uns 300 atletas da minha bateria de largada esperando pelo tiro que daria início aquela jornada. 

Quando soou aquele estalo foi um mar de pessoas passando uma por cima da outra em buscar de uma melhor e mais tranquila posição naqueles primeiros minutos de natação. E foi em um desses turbilhões, logo na largada que meu rosto encontrou um pé. Um tal pé que vinha numa velocidade tremenda e com uma força assustadora que fez meus óculos de natação voarem e me fez perder a orientação. Naquela afobação, tentando me encontrar, me bateu um desespero. Primeiro instinto de sobrevivência: respirar. Depois, putz!, depois aquela frustração! Tudo que passava pela minha cabeça era desistir. Desistir? Como assim desistir? A prova mal tinha começado! E todos aqueles sentimentos, aquela lembrança dos treinos não treinados, da comida mal comida nas noites adentro no escritório, do sentimento de falta de preparo, na incerteza de estar em condições físicas ideais para a prova. Minha cabeça estava a mil.. a única coisa que pensava era nadar, ou melhor, boiar até à margem do lago…. e de “rabo entre as pernas” aceitar a situação. 

Foi quando rapidamente se aproximou um daqueles voluntários de caiaque que estão lá para ajudar e auxiliar durante a etapa de natação. O tal sujeito me perguntou se estava tudo bem.. e eu já vencido respondi que precisava me apoiar no caiaque para me recompor, me recompor enquanto localizava a saída mais próxima e menos vexaminosa. Não sei exatamente quanto tempo se passou até que notei que meus óculos que haviam “voado”  resultado da tal patada da fúria na verdade estavam presos à minha toca. Bom recoloquei os tais binoculares e numa teimosia que ainda não consegui entender decidir seguir em frente. Falei “muchas gracias” ao hermano do caiaque que voltou a me perguntar se eu estava bem, e eu num aceno sem jeito segui nadando. As braçadas não se encaixavam, a respiração estava completamente fora de sincronia, nada ia bem.. e aquela voz interna, aqueles pensamentos me mandavam para as margens do lago.. “você não treinou o que devia”, “depois desse pé na cara você já tem uma desculpa convincente”, “desista, caia fora enquanto é tempo”, “ninguém vai te julgar”..

É meu amigo, mas quem pratica esporte sabe bem... se você não terminar ninguém vai se importar, ninguém vai a dar a mínima, mas lá no fundo você e só você vai saber que não terminou. A briga é você com você e mais ninguém. E naquela briga comigo mesmo fui nadando, todo atabalhoado, quem via de fora imaginava que eu estava no lugar errado. Mas fui! Braçada a braçada, tentando me concentrar na técnica, em melhorar aquele movimento. Tentei me concentrar naquele momento.. em cada braçada. Foi então que uma coisa incrível passou pela minha mente.. do nada a imagem eu cruzando a linha de chegada ficou clara na minha mente! Visualizei o sorriso no rosto do meu filho e senti seu abraço ao terminar a prova. Vi a imagem da minha esposa cheia de orgulho por ter um marido que era um exemplo de determinação para o filho. E, claro, me lembrei de outras provas, desafios e dificuldades que eu já havia superado. Ah! Meu amigo.. eu ia terminar.. rastejando se preciso.. mas nada iria me impedir de cruzar aquela linha.. tinha uma abraço e um sorriso me esperando na reta final.

Agora a prova era outra, a situação mudou e minha estratégia tinha que mudar. A técnica estava comprometida, já tinha ficado para trás, então fixei meu alvo na próxima boia. Minha meta era nada até a próxima boia. Numa prova dessas em águas abertas geralmente a organização posiciona boias enormes a cada 100 metros, por exemplo, que orientam o caminho dos nadadores. E foi assim, de 100 e 100 metros.. minha a busca em alcançar o próximo degrau.. no caso próxima boia… um passinho, ou uma braçada de cada vez, uma depois da outra até a próxima boia. Já estava na metade do percurso quando me dei conta que estava sozinho, sem ninguém ao meu lado, foi quando comecei a sentir câimbras nas pernas, na panturrilha, no dedo do pé.. nunca tinha passado por aquilo.. e estava ali sozinho naquele lago.. agora as margens estavam longe… me bateu um desespero. Se parar afunda… e não tendo outra opção decidi que a única solução era nadar. Eu tinha que me controlar, tinha que manter a calma. Agora as consequências poderiam ser maiores. E assim segui em frente, com dor, respirando mal mas não tinha outra solução. Depois do que pareceu ser uma eternidade me vi já perto da saída.. então me aproximei da rampa que ajudava os atletas a saírem da água e ao tocar terra firme outro susto. Não sei se foi o nervosismo ou o esforço físico e mental pelo que eu tinha passado mas parecia que eu estava bêbado. Era uma sensação horrível, provavelmente resultado de todo aquele esforço com o corpo na horizontal e que ao mudar para vertical tinha que se adaptar. Vai saber?

Meio cambaleando corri até onde estava minha bike. Ainda tinha que tirar o wetsuit, aquela roupa de borracha.. o caminho até o local onde estava meu equipamento era de grama e areia, então imaginem a sujeira. Corpo e pés molhados, caminhando naquele chão e tendo que arrancar aquela roupa que literalmente cola no corpo. Foi um desastre! Na pressa e afobação, cheguei a cair no chão. Até que consegui tirar o tal traje e jogá-lo dentro da bolsa.

Agora era hora de pedalar.. mais 90 km pela frente. Sair correndo e empurrando a bike pela área de transição até chegar ao ponto onde é permitido subir na bike e começar a pedalar. Os primeiros metros foram difíceis, eu ainda estava atordoado. Mas depois de uns 3 quilômetros tudo voltou ao normal. Tirando o susto de quase ter sido atropelado, o pedal foi nota 10.. pedalei forte, nem parecia aquele cara desengonçado que se debatia na água. Por um desses motivos que não dá pra entender a organização não bloqueou o trajeto de carros nas ruas transversais. Resultado? Numa daquelas retas cheia de rotatórias de tempos em tempos um carro atravessava de um lado para o outro da avenida orientado por um voluntário, provavelmente com muita boa vontade mas mal treinado. E numa dessas imperícias um carro quase me pegou.. ou melhor entrou na mina frente quando eu vinha a uns 40km/h. Meu grito e o desespero do voluntário fizeram o motorista parar justo a tempo de eu poder desviar. Ufa!!! 

Final do pedal, agora ao chegar perto da área de transição temos que descer da bicicleta na ponto indicado e empurrar a magrela até o local onde agora calçamos os tênis para a próxima etapa. Para minha felicidade e surpresa quando eu estava já entrando para deixar a bike alguém gritou meu nome. Era minha esposa e meu pequeno filho que estavam ali no gradil me esperando. A alegria nos olhos do meu pequeno é algo difícil de descrever. Talvez o fascínio por todo aquele show de atletas, música, bicicletas e pessoas gritando e incentivando... ah.. ele estava numa alegria. Parei dei um beijo nos dois e agora com mais energia e motivação parti para os últimos 21 km. 

Já eram quase 11 h da manhã e o sol estava lá para nos relembrar que agora sim era hora de mostrar preparo. O percurso consistia em 3 voltas de 7 km... e se revelou, apesar da minha expectativa negativa, uma ótima ideia. Os pontos de hidratação bem localizados e abastecidos com os mais diversos recursos, aliás recursos bem gelados, juntamente com uma quantidade expressiva de pessoas torcendo para seus parentes e amigos faziam da corrida uma etapa menos difícil do que deveria ser. Até o quilômetro 15 fui muito bem.. com o pace, ou velocidade, dentro do que eu imaginava. Mas foi a partir do km 16 que comecei a sentir o forte calor e sem dúvidas o treino irregular durante minha preparação. Confesso que os últimos 5 km foram uma tortura entre, cansaço, dores nos joelhos e voltado de andar... mas já viu.. depois de tudo o que eu tinha passado e com aquela imagem da chegada na minha mente... ah! Meu amigo... era correr, e correr. Pensei.. "é só colocar um pé na frente do outro e me imaginar cruzando a linha de chegada".

Quando vi a placa de 19 quilômetros parece que tudo ficou mais fácil.. agora era só terminar. A alegria tomou conta de mim.. e ao ver aquele afunilamento de gente nos último 50 metros.. não pude me conter.. fiz até aviãozinho e batia na mão de quem estava aí..  ao cruzar a linha parei e dei um grito.. um grito de vitória.. um grito de quem venceu a si mesmo. Depois daquele corrida muitas coisas passaram por minha cabeça. Superação e alegria foram os sentimentos mais intensos. Foi sensacional poder relembrar e contar essa façanha durante aquelas sessões de coaching que sem dúvidas me mostraram do que eu sou capaz, e mais que isso que as respostas estão dentro de nós mesmo. E você qual o seu próximo desafio? O que te move?

Espero que tenham gostado..

Alguns mantras poderosos!

#1 

"What consumes your mind, controls your life"

 

#2
"O ato de correr é mais do que uma sucessão de saltos como está conceituado na literatura. Correr é um ato de coragem, persistência e superação; um metafora da vida na mais pura expressão atlética" - Alan Ricardo Costa

 

#3

"Don't be easy to define, let they wonder about you" @sucess_foundation

#4
Love your fucking life. Take pictures of everything. Tell people you love them. Talk to random strangers. Do things your're are scared to do. Fuck it, because so many of us die and no one remembers a thing we did. Take your life and make it the best history in the world. Don't waste that shit"

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