Um desafio chamado Rinjani - Parte I
Gunung Rinjani em indonésio ou Monte Rinjani, essa foi uma das aventuras, fisicamente e mentalmente, mais difíceis que já participei. Eu ainda vivia em Balikpapan na exótica Indonésia quando um grande amigo argentino que também vivia por lá me convidou para participar juntamente com outros amigos em comum, de uma escalada, mais um montanhismo, no tal monte Rinjani, o segundo maior vulcão da Indonésia e o maior vulcão da ilha de Lombok, uma pequena ilha próxima a Bali. (para saber mais sobre o Rinjani https://en.wikipedia.org/wiki/Mount_Rinjani)
Eu aceitei de imediato. Tivemos cerca de um mês para nos prepararmos. Éramos 6 amigos, de diversos lugares do mundo. Karimo, um egípcio que na juventude havia jogado na seleção de vôlei seu país. Rafa, o tal argentino gente boa, sim, muito gente boa que por incrível que pareça também era bom de bola (para minha surpresa, sim existe futebol na Argentina hehehe). Yeky um venezuelano, também bom com a tal pelota en los pies. Reinaldo, um boliviano, também parte da equipe de futebol. Cesar, brasileiro e, como eu, um apaixonado por corrida.
Nesse um mês de preparação eu procurei ler e conhecer sobre o tal vulcão e buscar depoimentos, experiências e dicas de pessoas que haviam feito o mesmo trajeto. Também li no Wikipedia sobre o tal vulcão: "O turismo de montanha é muito popular: é possível fazer escaladas até ao anel do vulcão, e visitar a caldeira. Os acidentes fatais não são raros." O que? Acidentes fatais não são raros? Putz, preocupante, mas tudo nessa vida tem um risco, não é?
Pois bem, partimos numa sexta-ferira no inicio da tarde rumo a tal ilha. Primeiro um voo de Balikpapan, onde morávamos, até Surabaya, uma das principais cidades da Indonésia localizada na ilha de Java, para depois então voar até Lombok. Cerca das 10h da noite chegamos em Lombok onde havia uma pessoa nos aguardando. Todos na van, partimos para um alojamento que estava a 3 horas do aeroporto, sim 3 horas na tal van depois de quase o dia inteiro entre avião e espera em aeroporto.
Finalmente chegamos ao alojamento. O local era bastante escuro, imagina quando você chega pela noite naquele sítio de um amigo em plena penumbra, pois é, essa foi a impressão. Lá formos para os quartos. Quartos bastante, bastante, bastante simples, onde não havia água quente, colchão sem lençol, nada de travesseiros e privada, bem a privada melhor não comentar.. bom, assim tentamos descansar um pouco para enfrentar a tal jornada que se iniciaria na manhã seguinte.
As 5:30 am eu estava de pé.. tomei mais um banho gelado para despertar alma. Quando abrir a porta do meu quarto me deparei com uma das paisagens mais impressionantes que já havia visto na minha vida. Estávamos na beira de um, tipo, penhasco onde havia uma plantação de arroz, muito comum na Indonésia. Algo realmente lindo e impressionante.
E assim fomos tomar o café da manhã. Café preto e algumas comidas locais que eu arrisquei experimentar., tudo muito simples mas muito, muito bom. Estávamos no café quando chegou o guia que ia nos acompanhar.
Enquanto revisávamos a rota com o guia descobrimos que havia tido um mal entendido durante a agendamento. Aparentemente o guia havia sido informado que íamos somente até o anel do vulcão onde estaria o acampamento. Mas não, nossa ideia era chegar ao topo, sim la no topo no tal do summit do vulcão a 3920 m acima do nível do mar. Segundo o Guia com somente 2 dias e meio, tínhamos que pegar o vôo as 2 h da tarde de segunda, não seria possível chegar ao pico. Olhamos uns aos outros e perguntamos ao guia: qual o problema? Por que não chegaríamos? E ele respondeu: “velocidade”, “Para fazer em 2 dias temos que acelerar, e não estou certo se chegaríamos”. Bom, mais uma vez nos entre olhamos ate que alguém disse: “então aceleramos, vamos mais rápido”. O guia meio que balançou a cabeça, não é parte da cultura indonésia discordar.
Terminado o café, equipamentos na van, partimos para mais 1 hora de viajem até o ponto de início da caminhada. Começamos a caminhar por volta das 8h da manhã. Além dos 6 aventureiros tínhamos na ‘caravana' o guia e 3 caras mais que levariam barracas, comida e outros apetrechos. Interessante imaginar que aqueles caras tão magros, e aparentemente tão fracos, iriam transportar aquele peso morro acima, ainda mais de maneira tão precária: um cabo de madeira com duas cestas, uma em cada lado do travessão. E mais interessante observar a simplicidade de cada um, nada de calçado para montanha, nada de mochilas high-tech, nada de roupa próprias para montanhismo, aparentemente zero preparação, vimos no caminho alguns até descalços, nada preparados para o frio que viria. Mas bem, estávamos na Indonésia, e lá muita coisa é improvisada, o povo vive com o pouco que tem, sem luxo, sem muito preparo, apenas vivem e posso dizer que vivem muito felizes. Por outro lado, alguns de nos estava equipado com mochilas próprias para montanhismo, calcados para montanhismos, roupa para montanhismos, óculos, chapéu, boné, cueca para montanhismos, enfim.
Cada um com seu equipamento e mochilas nas costas partimos para a jornada. No principio tudo normal, sem surpresas, uma caminhada como outra qualquer, a subida não era muito íngreme a paisagem não tinha nada de especial. na verdade a paisagem era meio seca, sem muita vegetação. O único impressionante era olhar para o longe, lá pra cima, e imaginar que chegaríamos naquele altura. O cume estava coberto por nuvens, a única coisa que sabíamos é que estava longe, muito longe. No começo muita conversa, bate papo e muitas risadas. Caminhamos por cerca de 2 horas e paramos para uns 5 minutos de descanso. Seguimos por mais umas 3 horas, paramos algumas vezes para descansar, encontramos alguns outros aventureiros, e quando o cansaço começou a bater paramos sobre uma pequena ponte para almoçar. Aparentemente aquele era o ponto onde todas o grupos paravam para descansar e para comer.
O pessoal do guia seria responsável pela comida e então foram para baixo da ponte para fazer fogo e cozinhar o almoço que não tínhamos nem idéia do que seria. Na ponte haviam outras pessoas, outros guias, cerca de umas 30 pessoas, uns 4 grupos diferentes, o interessante é que todos tinham cadeiras, todo aquela gente sentados em cadeiras, daquelas cadeiras de lona. Perguntamos para nosso guia onde estavam nossas cadeiras e a reposta não foi nada animadora, quando então o guia aparece com uma lona. É! Uma lona! Putz, eu pensei: “que caramba vamos fazer com uma lona???”. Enquanto acomodávamos a tal da lona no chão alguns de nós reclamava enquanto outros faziam piadas. Lona no chão, ali nos acomodamos. Engraçado perceber que enquanto reclamávamos por não ter cadeiras percebemos que todos ao redor nos olhavam, aquele olhar de inveja, porque tínhamos um lugar pra deitar e relaxar enquanto eles... só cadeiras! Hehehehe.
Bom, ficamos cerca de 2 horas na tal da ponte para então seguir caminho morro acima. A partir daquele ponto a caminhada ficou mais difícil. O caminho era mais íngrime, e a temperatura começou a cair. vegetação mais intensa e mais bonita. Alguns de nós cansados, mais do que devíamos para enfrentar a que tínhamos pela frente. Paramos mais algumas vezes, até que encontramos alguns macacos pelo caminho, sim vc leu bem, macacos! Os tais dos primatas viviam naquelas montanhas e já estavam acostumados com os visitantes que eram constantes por ali. Alguns dos amigos primatas chegavam bem perto de nos, na verdade tínhamos que ser cuidadosos já que, segundo o guia, poderiam chegar a atacar (???), que medo!
Era 6h da tarde, quando caminhei os últimos 50 m para ter uma visão que para sempre ficará registrada na minha mente. Foi a imagem mais linda, mais impressionante, mais maravilhosa que eu já havia visto na minha vida ate aquele momento. Havíamos chegado ao anel do vulcão, a cerca de 2500 acima do nível do mar. Local onde iríamos acampar. À vista era exuberante, la de cima víamos a dimensão do que um dia foi o caldeirão daquele imenso vulcão, uma caldeira de 6 por 8.5 km, isso mesmo quilômetros!!!! Lá embaixo na cratera havia um imenso lago de águas azul, é um vulcão menor que emergiu e que de tempos em tempos dá sinal de vida, entrando em erupção e complicando o tráfego área da região. Não havia nada igual àquela imagem... uma verdadeira pintura da grandiosidade da natureza!
Pois bem, aquele era o lugar onde íamos acampar por algumas horas. O plano era descansar, dormir, um pouco e despertar a meia noite para então seguir subindo. Assim que as barracas foram montadas, aproveitamos para comer algo e tentar se limpar, sim se limpar, daquela poeia toda, do suor, da conhecida "inhãca" depois de tantas horas de caminhada. Nesse momento descobrir quanto valiosa foi algumas das dicas que eu tinha lido em dos blogs que havia consultado: "leve papel toalha umedecido". Isso aí.. limpeza a seco.. hehehe.. e chinelo para descansar os pés..
Depois de comer algo, fomos para as barracas, descansar. Lembro-me de literalmente "apagar". Quando me dei conta o relógio estava soando... 23:30 h, hora de despertar. A sensação é que não tinha descansado mas não havia outra opção a não ser levanta-se e seguir! Afinal foi pra isso que eu estava naquele lugar, a 2500 metros acima do nível do mar.. e eu iria chegar aos 3726 m de qualquer maneira. Depois de tomar um café e comer algo estávamos prontos para seguir. Agora com lâmpadas de cabeça para iluminar o caminho e com menos equipamento para carregar. Agora o trajeto consistia em subir até o topo, uma caminhada de umas 5 horas, chegando lá em cima antes das 6 h para curtir o nascer do sol, mas essa historia fica para o próximo post.
Abaixo confira algumas imagem da aventura.. logo, logo vou postar a segunda parte dessa aventura, quando depois de muito esforço chegamos ao topo desse vulcão. Aguardem!!!!